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Orá iêiê, mamãe Ôxum
Orá iêiê, ó ó venêvalê
Na queda da cachoeira
Eu fazia a minha presse
Pra mamãe Ôxum me proteger
Axé
De clandestina a puta
O meu corpo tá marcado
Pra morrer nesse sistema
Que não ver o nosso lado
Mas agora descolonizada
Quero paz pra minha favela
Chego com as pretas
Pra calar os zé roela
De juiz a deputado
Apresento mais um fato
Preconceito quer defeito
Mais uma mina no ato
Nêga preta, mina trans do guêto
Que já patologisa a minha indentidade
Mas aqui eu sou rainha
De clandestina a puta
Eu canto sempre na labuta
Me refiz, tô mais madura
Caio vivo sem ser fruta
Não sou teu objeto
Pra tu poder me usar
Se me ver na tua esquina
É melhor não afrontar
Ah mulheres, eu tô com sangue nos olhos, é por nós e para nós
Por todas as trans e travestis que tentam sobreviver aqui e ali
Tão pensando o quê?
Que ficaríamos caladas nesse sistema
Tentando nos matar, nos enlouquecer?
Essa pra todas as trans
E travestis do guêto que apanham a
Diverdidade do nosso rolê, não tem jeito
(Não tem jeito)
Não tem jeito
Mais uma mina do guêto
Que foi morta sem respeito
É Dandara sem direitos
Pomba gíria no teu peito
A salvação não vem de dentro
Vem da luta ou movimento
Se tá viva é elemento
Se tá morta é escremento
Tamo juntas no tormento
Vou vivendo e acendendo
Tô chapando com o bonde
Chega mais vem ver de perto
Não sacuo o dialeto
Minha luta tá inverso
Ou cantava poesia
Ou queimava o congresso
Partiria pras esquinas
Venderia várias drogas
Nunca quis vender meu corpo
E não tô de anedota
Pois o meu rolê é outro
Vacilou é no pipoco
Atiro nos machos escroto
Não sacou, dá Play de novo
E pras puta na labuta
Que meu canto te induza
É o estado que te furta
Novidade nessa luta
Ver teu corpo um objeto
Quando mata sai de perto
Quando vi já fiz silêncio
E aí o crime é certo?
17 anos esqueci de quem eu era
Bloquiei, apaguei, iguinorei a minha era
Minha cor, minha fé, minha essência, minha maré
Minha sou, mina sou
E seguindo firme vou
Tô chamando pra guerrilha
Pra lutar por nossas vidas
Vejo logo mama Ôxum
No Axé tô na ativa
Pelas pretas, trans e todo mano de qualquer perifa
Com a morte negocio, mas um passe pras amigas
Mataram minha irmã
Bem alí naquela quebra
Nem cheguei a conhecer
Mas sabia que era ela
E não ele como falam nos jornais
Anormais
Nos tratando como lixo
Pra cumprir tais ideais
Colonizados
São capachos, machos fracos
Que não respeitam do fato
Que as mina são diversas
E a opressão não vem de baixo
Vem de cima
E a trans que não sorria
Agora goza pela vida
Quando atira nos racistas
Branquitude perde a linha
Aos anos que canta
Pela aquelas lá da quebra
Que se calam em diante ao sitema que emprega
Saia logo dessa margem
Que ousaram nos botar
E perceba que na luta só nos resta é revidar
Pra tentar sobreviver se fortaleça no rolê
Cê não tá sozinha nesse mundão louco pode crê
No rolê somos perifas, pretas lindas, criativas
Que sangrar os meus poemas
Mas assim que tá a vida
Se nossa expectativa tá em baixo na corrida
Então luto pela a vida
Pois a luta é por direitos
Não se vá Jhá mais sozinha
Pra quem acha que ser trans
É seu lucro, escuta a mina no axé que denuncia
Para além do rolêtombo
Pois eu vim foi dos escombros
Não sacou não passa o pano
Tô chamando então os manos
E as minas do mundão
Assumir linha de frente
No comando anti-opressão
Não sacou não passa o pano
Tô chamando então os manos
E as minas do mundão
Assumir linha de frente
No comando anti-opressão
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